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Música contemporânea na cabeça

27 de abril de 2010

Guris assistem ao concerto didático do grupo de música contemporânea da Tom Jobim EMESP

Era sexta-feira da semana de Tiradentes e do descobrimento do Brasil. Mas o programa dos alunos do Guri Santa Marcelina foi participar do concerto didático que antecedeu a segunda apresentação da Camerata Aberta. Foi “uma espécie de ensaio geral, um pré-concerto, onde a gente pôde parar e discutir, de uma maneira muito informal”, nas palavras do contrabaixista Pedro Gadelha, integrante do grupo de música contemporânea da Tom Jobim EMESP.

No palco, os músicos. Na plateia, estudantes de música da faculdade Santa Marcelina, ouvintes e até um crítico de um jornal de circulação nacional. Mas o que chamava atenção mesmo eram os alunos do Guri Santa Marcelina, que ocuparam boa parte dos lugares do Grande Auditório do Museu de Arte de São Paulo (Masp).

Vindo dos polos dos CEUs Perus, Vila Curuçá, Parque Veredas, Cidade Dutra e Jambeiro, os jovens puderam assistir a um concerto que incluía peças de Charles Ives, Edgar Varèse, Salvatore Sciarrino, Sergio Kafejian e Silvio Ferraz, programa denominado “Entre Extremos” que, segundo o coordenador pedagógico da Tom Jobim EMESP, Kafejian, “apresenta sonoridades violentas e sutis, extremos da expressividade musical”. Didaticamente, o regente convidado da Camerata, Guillaume Bourgogne, e Kafejian explicaram, peça a peça, suas principais características.

Num dos cantos do auditório, os alunos do polo CEU Vila Curuçá, juntos, acompanhavam toda a explanação sobre o processo criativo do compositor italiano Sciarrino, autor da peça Archeologia Del Telefono (2005), uma crítica ao excessivo uso de tecnologia no mundo moderno, em que os celulares tornaram-se objetos de desejo da população mundial. Durante a peça, enquanto a música se mistura ao ambiente e o ouvinte não sabe exatamente o que é som externo e o que faz parte da composição, César Augusto Santos Carmo, 17 anos, aluno de trompete desde 2008, comenta: “isso é o celular vibrando na mesa”. Ele é um dos que mesmo antes de terminar a apresentação já aprovava o concerto. “É coisa boa. Todos os sons podem virar música. Faço aula modular e lá a gente busca esses sons. A gente já fez música com panela ou qualquer outra coisa que encontrava”. Ricardo Appezzato, coordenador pedagógico do Guri Santa Marcelina, explica que nos cursos modulares os alunos desenvolvem um trabalho musical com as paisagens sonoras, ruídos e silêncios. “A grafia musical não tradicional, muito usada na música contemporânea, sugere muitas possibilidades sonoras e vem sendo estimulada a ser trabalhada como material pedagógico nas aulas de iniciação musical e curso modular.”

Ana Paula Vieira, de 17 anos, estudante de saxofone do polo CEU Dutra gostou da oportunidade cultural. “Nunca tinha acompanhado um concerto de música contemporânea, mas sabia que era feita de um modo não tradicional”. Outra que gostou do repertório foi Ana Carolina Neves Marques, 16 anos, aluna de eufônio no polo CEU Jambeiro: “é bem diferente do que estou acostumada”.

Valéria Zeidan, coordenadora pedagógica do Guri Santa Marcelina, entende que os alunos precisam ter contato com o repertório de música contemporânea tanto quanto têm contato com o repertório de outras épocas e gêneros musicais. “O importante é ampliar os horizontes da apreciação”. 

Um ex-aluno do Guri Santa Marcelina estava especialmente atento a tudo o que se passou no auditório. Lucas Pereira de Almeida, que estudou violão no polo CEU Parque Veredas e foi aprovado no curso de música da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), durante visita ao polo acompanhou a turma que foi ao auditório do Masp e se surpreendeu com a apresentação: “estava fazendo um trabalho exatamente sobre a origem da música do século XX, da dissonância, da experimentação de timbres. Toda a parte teórica que pesquisei ontem, vi exposta aqui.”

A Camerata Aberta da Tom Jobim EMESP vai promover mais um Concerto Didático no dia 11 de maio, às 20h30, no auditório da Faculdade Santa Marcelina. Acompanhe a programação completa no site www.emesp.org.br.
 

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