Formação atual conta com naipes de metais, além de percussão e bateria. Evento reflete sobre a relação entre centro e periferia na metrópole
O grupo D-Black, formado por alunos de diferentes polos do Guri numa iniciativa independente, apresentou-se no dia 22 de agosto no seminário Estéticas da Periferia, realizado no Centro Cultural São Paulo. As quatro peças tocadas intercalaram as falas das gestoras Giuliana Fronzoni e Marta Bruno, convidadas a relatar as experiências do Programa como exemplo de projeto com foco na periferia.
O conjunto, do qual fazem parte onze músicos, surgiu a partir do convívio dos adolescentes durante e depois das aulas nos polos. Diferentemente de formações musicais tradicionais do projeto, não foram os professores ou o corpo pedagógico que estimularam a experimentação. “No começo, era eu e o Isac. Depois, apareceu mais um, foram aparecendo as meninas, até que chegamos à formação atual”, comenta o saxofonista Guilherme.
A trombonista Thayane, 18, conta que a iniciativa foi motivada pelo desejo de complementar o conhecimento adquirido nas disciplinas formais. “Depois da primeira apresentação, gostamos do resultado e resolvemos consolidar o grupo”. Segundo ela, que integra também a Orquestra Sinfônica do Guri, o plano é fazer com que o D-Black trilhe um caminho na cena musical.
Discutindo a periferia
Todos os músicos da banda têm um ponto em comum: são atendidos por um projeto que atua na periferia da maior metrópole do País. Essa foi a conexão estabelecida para que acompanhassem as gestoras do Guri no evento, que conta com atividades em mais de 30 espaços culturais da cidade.
No início de sua fala, a gestora Giuliana Frozoni traçou um breve histórico do Guri e lembrou da importância de se garantir o direito de todo o cidadão à arte. “Mas não de qualquer maneira. Tem que ser com consistência”, frisou, referindo-se à missão da Santa Marcelina Cultura de promover um ensino musical de excelência atrelado a um trabalho que cuide do lado social dos alunos.
Segundo Giuliana, essas duas vertentes, artística e social, estão interligadas. Ela deu o exemplo do curso modular intitulado Bumba meu-boi, que resgata elementos de uma manifestação popular que remonta às origens familiares de muitos alunos. “É importante que por meio da cultura seja possível refletir e perguntar-se: (aspas)de onde vem esse sotaque´, ´quem é a minha família´”, analisou.
Promovido pela Ação Educativa junto com outras instituições, o Estéticas da Periferia visa discutir a cultura na periferia não apenas sob o ponto de vista social, mas, também estético. Nomes conhecidos por representar a voz daqueles que vivem em zonas periféricas da cidade, tais como Criolo e os artistas do Sarau do Binho, fazem parte da programação, que vai de 21 a 30 de agosto, dividida em duas partes: mostra e seminário.
O conceito por detrás de toda essa movimentação está expresso na frase do jurista Miguel Reale, proferida na década de 1970: “No universo da cultura, o centro está em toda a parte”. De acordo com o manifesto assinado por Antonio Eleison Leite, da ONG Ação Educativa, a ideia é “deslocar o Centro para a Periferia e a Periferia para o Centro. Inverter a lógica urbana desagregadora”.
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