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Lições de canto com o mestre Nicolau de Figueiredo

02 de maio de 2012

Nicolau de Figueiredo, reconhecido como um dos mais importantes cravistas e organistas da atualidade, esteve na EMESP Tom Jobim, nos dias 11 e 13 de abril, para ministrar master classes para os alunos de canto do Ópera Estúdio, curso de formação avançada da Escola.

As aulas, intituladas “Recitativos Clássicos e Barrocos”, foram verdadeiras lições de música para os jovens cantores. Cada um apresentou uma ária com recitativo dos períodos Clássico e Barroco e Nicolau pôde orientá-los na interpretação das peças. Foi uma excelente oportunidade para os cantores aprimorarem a técnica. Radicado na Europa desde 1980, Nicolau de Figueiredo tem se apresentado e regido importantes grupos de música antiga. Após as master classes, o músico deu entrevista para o site da EMESP Tom Jobim.

Você tem vasta experiência na interpretação do repertório vocal barroco e clássico, ensinou esta disciplina no Conservatório de Paris (França) e na Schola Cantorum Basiliensis (Suíça). Como é realizar este trabalho no Brasil?

Uma delícia! É muito bom porque, sendo brasileiro, encontro meios melhores para me comunicar com os alunos daqui do que com os estrangeiros. Dá certo lá também, mas temos muitas referências em comum aqui. Eu me sinto muito em casa, é como trabalhar em família. E tenho uma admiração muito grande pela expressividade brasileira. O Brasil tem talentos maravilhosos, grandes artistas. 

No Brasil ainda não existe uma tradição na especialização em música antiga. Geralmente os jovens aprendem um repertório que abrange todos os estilos dentro da música erudita, e a música antiga é apenas um repertório entre eles.

Em geral, percebi que aqui o que se canta é o que se ouve nos discos. Eu disse “em geral”, mas não é algo generalizado. Existem muitos alunos que estão estudando (a música antiga). Os que querem realmente se aprofundar na música barroca, como foi o meu caso, acabam saindo do país. Aqui é difícil fazer uma especialização na área de música antiga, pois não há campo. É bem aceita, pois é uma música muito viva, as pessoas gostam, mas não é muito conhecida, não se sabe todas as necessidades que ela exige. Ainda temos poucos instrumentos antigos, no geral, como cravos e órgãos. E a experiência com a música nem se fala, é muito pouca, sobretudo com relação aos cantores. 

O melhor conselho para os jovens músicos que pretendem seguir este caminho é, então, estudar numa instituição de música antiga fora do país?

Isso seria para ganhar experiência. Foi isso que fiz, pois em 1980 não havia nada parecido no Brasil. Hoje em dia já tem. Quando um aluno me diz ‘quero ir pra lá’, eu digo ‘você tem que se preparar antes’. Não adianta ir para o exterior achando que vai ficar pronto lá. Aqui tem professores muito bons. Os alunos são capazes de ter uma base muito boa. Temos professores excelentes de técnica vocal; talvez não sejam especializados em música antiga, mas sabem de declamação e sabem o que é cantar. Então, eu aconselharia ir depois de conseguir esta base. Aproveite o máximo o que puder aqui. 

O aprendizado da música antiga fica incompatível com o do repertório do Romantismo e das outras épocas? Deve-se dedicar exclusivamente a este repertório?

De maneira alguma. Já trabalhei Monteverdi com cantoras wagnerianas que não gostavam no começo, pois achavam que deviam fazer “voz branca” e depois passaram a amar. É uma ideia errônea achar que o Barroco tem que se cantar com voz branca. Voz branca é coisa de criança. Para o Barroco, deve-se ter uma voz firme. Antigamente se estudava mais, os cantores eram chamados de músicos, e não os instrumentistas.  Hoje em dia, isso se perdeu no Brasil. Os alunos precisam de ajuda do professor de canto, do maestro, diretor de cena, pianista, especialista… Não precisa de tudo isso. 

Você teria mais alguma recomendação?

Acho muito importante que os alunos estudem por si mesmos. Eles sabem ler música, sabem o que está lá (na partitura). O professor não precisa ficar ali do lado sempre. Aqui – não quero generalizar – mas ainda há uma infantilidade, uma necessidade de pedir muita ajuda. Se ajude. Não precisa perder tanto tempo e se desgastar. Antes de abrir a boca para cantar, saiba bem o que vai cantar. Não espere que alguém venha e te corrija, seja independente.

Você regeu no feriado da Páscoa os Nove Motetos para a Semana Santa do Padre José Maurício Nunes Garcia, com Sérgio de Carvalho e seis cantores, no Centro Cultural São Paulo. Conte-nos como foi esta experiência.

Foi muito bonito. Fiz um trabalho a partir da música que está escrita. Os músicos não precisam esperar eu dizer como é. No Brasil não se faz este tipo de repertório com o devido cuidado. Tem que interpretar as palavras, as cores dos acordes, das sonoridades, está tudo ali. Sobretudo a música do Padre José Maurício, que é muito específica. Realmente o Padre e Mozart estão ali (no mesmo patamar). Os cantores ficaram surpresos com o resultado, pois não estavam acostumados a cantar esta música realmente interpretando o texto, não somente sílabas. Para isso, você precisa fazer de cor, então requer muito estudo e muita preparação. Foi lindíssimo.

Quais seus próximos projetos?

Tenho um concerto de órgão na Suíça, onde vou tocar música espanhola. Depois darei master class de cravo no Conservatório de Lyon (França). Daí vou para a Espanha tocar num recital com Dominique Visse, contratenor maravilhoso, na Escorial. Tenho uma admiração profunda por ele, por isso estou muito feliz de poder tocar com ele. Estou de volta ao Brasil no dia 5 de julho, na série do Cultura Artística. Vou tocar um repertório italiano com a soprano Artemisa Repa. 

Obrigada pela entrevista.

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