Christian Gabriel dos Santos conta a sua trajetória até ser aprovado para estudar em uma das mais renomadas instituições de ensino do mundo
O jovem violista Christian Gabriel dos Santos, bolsista da Orquestra Jovem do Estado, foi aprovado para estudar música na Royal Academy of Music. Christian é aluno de viola da classe da professora Mariana Costa Gomes na EMESP Tom Jobim, onde desde 2017 frequenta aulas de escritura, história da música, percepção e música de câmara.
Além de cursar as disciplinas de apoio, para complementar sua formação participa de master classes. Inclusive, foi em uma atividade dessas realizadas na EMESP, que conheceu John Thorne, violista e professor da Royal Academy of Music. “Vi nele as qualidades que eu gostaria de desenvolver como músico”, conta. Com essa constatação, decidiu prestar o processo seletivo para estudar em Londres. O jovem sabia das dificuldades de ingressar no mais antigo conservatório musical da Inglaterra, mas com a orientação de sua professora Mariana acreditou que seria possível.
Como se fosse um presente, o resultado a resposta chegou pouco antes do Natal: Christian havia sido aprovado para estudar na Royal Academy of Music. “Fiquei surpreso, muito feliz e bastante apreensivo, porque descobri o quão caro é morar e estudar em Londres, além disso, não há muitas opções para se conseguir uma bolsa de estudos”, revela. Mesmo assim, Christian não abaixou a cabeça, porque sabe que se chegou até aqui pode ir aonde quiser. “Venho de uma família humilde, meus pais não tiveram a oportunidade de estudar. Eu seria o primeiro de minha família a obter um diploma universitário e estudar fora do país”, revela.
O jovem sabe o quanto a educação é essencial para o crescimento de um indivíduo e de uma sociedade, e reconhece essa oportunidade para se desenvolver como violista e atingir um nível elevado de qualidade artística. “Espero conseguir concretizar esse grande sonho e um dia poder compartilhar o meu conhecimento com outras pessoas, tocando ou ensinando”. Para isso, pensou em uma forma colaborativa de arrecadar os recursos necessários para pagar parte da anuidade e outros custos durante os seus estudos, e lançou uma campanha de crowdfunding (financiamento coletivo). Qualquer pessoa pode contribuir da forma que puder. Acesse o link https://bit.ly/2F2eM1T e confira as opções disponíveis para ajudar a tornar o sonho do Christian possível.
Infância em Duartina: como tudo começou
Foi na cidade de Duartina, no interior do Estado de São Paulo, que Christian nasceu, cresceu e teve o seu primeiro contato com a música. Foi lá também que enfrentou o primeiro e talvez o mais difícil desafio de sua vida e carreira até o momento. Aos cinco anos de idade, perdeu o dedo mindinho da mão esquerda.
Filhos de cortadores de cana, Christian e seu irmão eram crianças travessas. Para mantê-los ocupados e entretidos todo o tempo, o pai os matriculava em projetos sociais onde podiam realizar diversas atividades, como natação, jiu-jitsu, capoeira, teatro e música. “Lembro-me do meu pai dizendo que queria que nos interessássemos por violino porque ele achava muito bonito”, recorda Christian. Mais tarde, devido a um projeto que mantinha uma orquestra voltada para crianças e jovens, Christian ganhou um instrumento para estudar.
A ausência de professores de viola na cidade em que morava e a falta de incentivo de pessoas que acreditassem que ele poderia tocar o instrumento sem um dedo não o desmotivaram. “Eu decidi que queria trilhar o meu caminho sozinho. Ensaiava e estudava todos os dias”, afirma o jovem que manteve essa rotina de estudo durante algum tempo até descobrir os festivais de música. A sua primeira participação foi em um festival realizado na cidade de Ourinhos, em 2013, onde teve a oportunidade de conhecer o violista Alexandre Razera. “Ele me ensinou bastante e adquiri muita base técnica e musical. Ele me inspira e eu me espelho nele. Ele foi, portanto, a minha primeira orientação profissional, o meu primeiro exemplo”.
Sem professor regular, Christian frequentava festivais de música ao menos uma vez por ano, além de buscar tocar em orquestras sinfônicas e de música de câmara. No Festival de Música Erudita de Piracicaba, por exemplo, participou de master classes com Antal Zalai, Alexandre Razera e Rudolf Raken.
Frequentou também festivais em Itu, Campos do Jordão e Gramado, e participou da Oficina de Curitiba, onde conheceu os violistas e professores Ricardo Kubala (Unesp), Emerson Di Biaggi (Unicamp), Horácio Schaefer e Gabriel Marin, e também professores internacionais como Hong Mei-Ziao e Anna Serova.
Em 2016, quando cursava o terceiro ano do ensino médio, começou a estudar viola na Escola de Música de Ourinhos com o professor Willian Cunha. “Ele foi meu primeiro professor do instrumento e estruturou todas as ideias que eu tinha sobre como tocar viola sem um dedo. Ele me passou as bases de como estudar com foco e nunca desistir”, recorda.
Desde então, Christian passou a colher os frutos de seu estudo e dedicação. Em 2017, ingressou na EMESP Tom Jobim e participou do 3º Encontro de Violistas do Brasil, onde se destacou e foi premiado com um arco de viola de autor nacional. “Pude conhecer muitos dos professores que vêm formando gerações de alunos e músicos de qualidade no país”, afirma. No mesmo ano, foi aprovado para a Orquestra Jovem do Estado, o que segundo ele foi uma das melhores coisas que aconteceram em sua vida. “É extremamente gratificante tocar em uma orquestra de nível tão bom como a Orquestra Jovem, com o maestro e diretor musical Cláudio Cruz, regentes convidados e incríveis solistas nacionais e internacionais, que sempre trazem várias novidades para nós”, conclui.
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