Carlos di Stasi fala sobre o amplo universo da família da percussão
Esta edição do Especial Instrumentos é, na verdade, dedicado a uma família: a da percussão. Xilofone, vibrafone, carrilhão, tímpano, chocalhos, reco-reco, surdo e tamborim são apenas alguns instrumentos desta grande categoria, que pode envolver também objetos do cotidiano: já percebeu o som que as pontas dos seus dedos produzem ao bater no teclado do computador? Ou o bater do sapato na madeira? Ou o som ao chacoalhar uma caixa de fósforos? Isto também é percussão.
Para falar sobre as características desta família tão ampla e peculiar, além das diferenças entre a percussão popular e erudita, convidamos Carlos di Stasi, consultor do Guri Santa Marcelina e autor do método de percussão do programa, para responder algumas perguntas. No final, Carlos ainda dá dicas para os guris iniciantes na percussão.
Aproveite a leitura!
Guri Santa Marcelina – Quais são e como se definem as famílias da percussão?
Carlos di Stasi – A definição de uma família pode estar vinculada a uma atividade específica ou ao gênero musical. Por exemplo, numa orquestra, os instrumentos são divididos de acordo com o repertório. Também há pessoas que preferem definir em duas classes: os instrumentos de altura indefinida, onde você não percebe uma nota definida, como o bloco de madeira e o prato; e instrumentos de altura definida, que têm as notas com clareza, como os instrumentos de teclado: marimba, vibrafone, xilofone. Existem algumas pessoas que gostam de categorizar as famílias de acordo com o material que o instrumento é feito: os instrumentos de madeira, instrumentos de metal, as peles.
GSM – Quais são as referências e repertório de percussão?
CS – Vai depender do tipo de percussão que você está fazendo. Se você fala, por exemplo, de percussão contemporânea, que inclui músicas experimentais, com certeza terá que se envolver com pessoas como John Cage e outras referências dos Estados Unidos e Europa da década de 30. Agora, se a pessoa estiver interessada só em percussão orquestral, terá que ouvir peças que tratam do naipe de percussão com mais carinho. Já a pessoa que faz popular tem que estar a par do que está acontecendo hoje.
GSM – Existe diferença entre a percussão erudita e popular?
CS – Em geral, as pessoas estabelecem algumas diferenças. Uma característica bastante importante da percussão popular é a tradição oral; enquanto a percussão erudita, apesar de conter tradição oral no ensinamento, se baseia em notação, escrita. Música popular se aprende tocando; música erudita se aprende num ambiente fechado, se preparando. Infelizmente, existe um senso comum que dá valor só para o estudo e, geralmente, o músico popular não é visto com importância. Mas um pode utilizar o procedimento do outro, porque os dois são importantes.
Outra diferença é que, na percussão erudita, em geral, não se trabalha tanto com as mãos, o que é muito rico na percussão popular. Geralmente, na música erudita se trabalha com baqueta; duas ou quatro baquetas. No popular, o músico trabalha com a mão e baqueta. Mas isso não quer dizer que não possa ter um cruzamento entre os dois.
Outra característica é que, em geral, o percussionista erudito não improvisa, ao contrário do percussionista popular.
E, obviamente, o repertório dos dois que é diferente.
GSM – Existe alguma limitação para os instrumentos de percussão?
CS – Todo objeto em si tem uma limitação. O que acontece é que, de acordo com o repertório, a gente cria certos estereótipos de como os instrumentos devem funcionar: você só bate assim, só toca dessa maneira, só usa este tipo de som para este gênero. Então, as pessoas acabam identificando um instrumento por uma parte apenas, uma fração do que ele pode reproduzir.
A gente observa que um instrumento musical tem uma variedade tremenda, mas que não é usada. E existe até uma razão para isso: não tem como consumir tanto som dentro do sistema que a gente vive. Então, na orquestra, por exemplo, você busca um tipo de som e treina para executar aquele som, porque sair do parâmetro é extremamente perigoso.
Os gêneros musicais são formados pelo estabelecimento de um número específico de sons. Mas na música experimental ou na independência de gênero musical, percebemos que não há esse conceito de limitação.
GSM – É verdade que qualquer objeto pode virar um instrumento?
CS – Sim. A caixa de fósforos, por exemplo, é muito utilizada no samba, tem músico que é especialista nisso. O vaso de flor, por exemplo, foi utilizado por alguns compositores eruditos. Portanto, qualquer objeto pode se tornar um meio de produzir música. Mas depende do gênero que você está tocando e a maneira que você vai utilizar também.
GSM – Dê dicas para os guris iniciantes na percussão.
CS – Por incrível que pareça, esta é a pergunta mais difícil. Agora eu vou improvisar. Na verdade a gente acaba aprendendo muito com a magia que o guri vê na percussão. Por mais que eu mexa com objetos, a criança vai vir com uma coisa completamente diferente. A minha dica é que os guris tentem encontrar maneiras ou pessoas que mostrem a percussão como um todo. Que procure condições onde ela possa estar em um meio mais livre, para entender toda a percussão.
Carlos di Stasi (esquerda) e Guello (direita) em capacitação do Guri Santa Marcelina
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