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Notas de programa: panorama da música polonesa do século XX

Por Hermes Jacchieri 

Andrzej Panufnik, Karol Szymanowski, Mieczyslaw Weinberg e Wojciech Kilar são quatro importantes compositores poloneses que foram reunidos neste programa da Orquestra Jovem do Estado de São Paulo – iniciativa importante e dentro da tendência adotada por várias orquestras do mundo de valorização do repertório orquestral menos conhecido.

Andrzej Panufnik (1914-1991) – Abertura Heroica

Andrzej Panufnik desenvolveu sua carreira como regente e compositor tendo ganhado prêmios de composição em 1947, mas foi a partir de 1963 que se dedicou mais intensamente à atividade criativa.

Sua formação se desenvolveu entre 1932 e 1939, em Varsóvia, Viena e Paris, onde estudou regência com Felix Weingartner e Philippe Gaubert.

O regime comunista impôs um direcionamento estético que restringia a liberdade criativa, e vários artistas que se opuseram a essa limitação acabaram perseguidos, sem trabalho, com suas obras banidas ou mesmo assassinados. Quando conseguiam, abandonavam os países dominados pelo regime; foi o caso de Panufnik, que em 1954 trocou a Polônia pela Inglaterra. O governo polonês proibiu a performance e publicação das suas obras –restrição que só caiu em 1977; e apenas em 1987 Panufnik foi readmitido na Academia de Compositores Poloneses.

Apesar de viver fora de sua terra natal, Panufnik sempre se declarou polonês, e o vínculo afetivo e suas raízes culturais se refletem em suas obras por meio de referências históricas, música folclórica e religiosa local. Deixou uma série de obras “nacionais” que lhe renderam comparações com Chopin pelo seu comprometimento com a cultura polonesa.

Sua volumosa obra compreende dez sinfonias, poemas sinfônicos, peças concertantes, música de câmara, música vocal, peças para piano solo, concertos para piano, fagote, violoncelo.

Sua Abertura Heroica foi composta para os Jogos Olímpicos de Helsinki, de 1952.

 

Karol Szymanowski (1882-1937) – Concerto para violino nº 1

Seguramente o mais conhecido compositor polonês, Karol Szymanowski soube desenvolver e valorizar sua carreira, obtendo reconhecimento, respeito e sucesso ainda durante a vida.

Sua obra se divide em três períodos. No início inspirou-se na escola alemã de Richard Wagner, Richard Strauss e Max Reger; depois, foi fortemente influenciado pela estética simbolista e impressionista de Alexander Scriábin, Claude Debussy e Maurice Ravel. A presença de Scriábin é notável em várias peças para piano, no Concerto para violino nº 1, e nas duas primeiras sinfonias. A última fase revela um interesse crescente pelo folclore polonês e da Silésia, representado em obras como as mazurcas para piano, o bale Harnasie, a Quarta sinfonia (na verdade um concerto para piano) e na ópera Rei Roger.

Durante sua vida, Szymanowski realizou várias viagens pela Europa, norte da África, países do leste europeu, do mediterrâneo e Estados Unidos – viagens para divulgar o seu trabalho e se desenvolver intelectualmente e espiritualmente. Como fruto dessas viagens, além de música escreveu também poemas e um romance intitulado Efebos, sobre o amor na Grécia antiga. Homossexual assumido para os amigos mais próximos, como Arthur Rubinstein, Szymanowsky manteve relacionamento com o bailarino Boris Kochno, e o famoso bailarino e coreógrafo Serge Lifar.

Entre 1926 e 1930, foi diretor do Conservatório de Varsóvia, mas abandonou o cargo por sérios problemas de saúde. Diagnosticado com tuberculose, foi internado várias vezes em sanatórios na Suíça, na Riviera francesa e, finalmente, em Lausanne, onde morreu.

Sua obra apresenta uma evolução estética constante, retrabalhando influências e desenvolvendo uma estética própria no que se refere ao tratamento melódico e linguagem harmônica. Extremamente intelectualizado, deixou um legado sofisticado que tem merecido a atenção de importantes regentes e intérpretes.

 

Mieczysław Weinberg (1919-1996) – Melodias polonesas, op. 47, nº 2

Esse importante pianista e compositor judeu-polonês é um dos tantos músicos do século XX cuja obra felizmente tem sido redescoberta, estudada e difundida.

Filho de artistas ligados ao teatro ídiche da capital polonesa, Weinberg se formou como pianista no Conservatório de Varsóvia em 1939, no início da Segunda Guerra Mundial. No mesmo ano foi enviado pela família para a União Soviética – seus pais e sua irmã ficaram para trás e foram mortos pelos nazistas, no campo de concentração de Trawniki, na Polônia ocupada.

Trabalhou até 1943 em um teatro de opera na Ásia central até ser convidado por Dmitri Shostakovich para ir para Moscou, onde viveu até sua morte, em 1996.

Shostakovich ficou bastante impressionado com o talento do jovem Weinberg e os dois foram amigos íntimos e compartilharam a colaboração dos mais notáveis intérpretes russos como Emil Gilels, Leonid Kogan, Kirill Kondrashin, Mstislav Rostropovich, Kurt Sanderling e Thomas Sanderling.

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