Santa Marcelina Cultura

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Um dia com o Hospitais Musicais

12 de julho de 2017

Com mais de 700 leitos dedicados tanto ao Sistema Único de Saúde quanto a convênios e particulares, o Hospital Santa Marcelina de Itaquera integra a rede de saúde Santa Marcelina, composta também pelas unidades Itaim Paulista, Itaquaquecetuba, Cidade Tiradentes (SP) e Porto Velho (RO), além de unidades de APS e AME, na capital paulista. É um complexo médico sofisticado que oferece transplantes de órgãos, medula óssea e tratamentos avançados de câncer. Sua estrutura é comparável aos melhores centros médicos do país, e por ano são mais de: 150 mil atendimentos no pronto socorro; 25 mil internações; 14 mil cirurgias; 2 mil partos; 3 milhões de exames; e 400 mil atendimentos ambulatoriais. O corpo clínico tem cerca de mil médicos cadastrados, e ao todo o hospital emprega 4 mil colaboradores em diversas áreas.

No prédio administrativo, um escritório regular, amplo, reúne os departamentos de auditoria e faturamento. Dentro de uma sala de reuniões, envidraçada, a turma de “veteranos” do Hospitais Musicais combina detalhes da apresentação itinerária, enquanto aquece vozes e afina os instrumentos.

Abre-se a porta e tem início o espetáculo. Em fila, os alunos começam a tomar o escritório com acordes ligeiros de violão, aos quais logo se unem um cavaquinho e clarinete, além da percussão. Uma das cantoras puxa O Pato, de Jayme Silva e Neuza Teixeira, famosa faixa de O Amor, o Sorriso e a Flor, de João Gilberto, de 1960. Colaboradores sacam os celulares, tiram fotos e filmam o grupo, que desfila por entre as mesas, cantando e dançando. O clima contagia, e alguns batucam nas mesas, imitam o cavaquinho com as mãos, e até dançam. Na sequência, os músicos emendam Isto Aqui, o que É?, samba de Ary Barroso. Ao fim da apresentação, os alunos são ovacionados e agradecem.

Mas esse foi só um aquecimento. Depois de uma tradicional foto na escadaria, o grupo seguiu para o prédio de atendimento, onde entrou tocando Eu Só Quero um Xodó, de Dominguinhos e Anastácia.

A letra, um canto de saudade e amor, pode parecer inapropriada para a ala de espera e tratamento de quimioterapia e radioterapia, mas a presença dos jovens cantores torna o ambiente mais leve, e por um instante desvia-se a atenção dos ventiladores e TVs ligados, do cansaço da espera. Tem gente que ri e tem gente que chora, todos prestam atenção, alguns cantam junto. Com delicadeza, entre uma música e outra, os alunos se apresentam e falam do prazer de tocar, desejam um bom tratamento e agradecem o carinho de colaboradores, pacientes e acompanhantes.

Tudo é natural, e os jovens não parecem pisar em ovos – nem quando pisam – tamanho é o entrosamento da turma e sua capacidade de improvisar. Formada por 14 alunos, a turma de veteranos está em sua segunda “temporada” em hospitais.

No ano passado, o projeto – que se iniciou em 2014 com práticas em grupo e aulas sobre o trato com o público do hospital – passou por mudanças: começaram a fazer parte da grade curricular também aulas com os Doutores da Alegria. Para 2017, além das aulas de comunicação artística dos Doutores, houve também um reforço no lado artístico, com a chegada de Luiz Gayotto, professor de prática vocal da área de música popular da EMESP Tom Jobim. Segundo o próprio Gayotto, sua participação funciona como uma consultoria: ele coordena os alunos para afinar ainda mais o repertório e pensar em soluções adequadas para os desafios encontrados nos corredores dos hospitais. Os “veteranos” realizam ensaios regulares, complementados por mais 12 horas de curso. Já a turma de “novatos”, com 25 alunos, realiza uma formação de 54 horas.

Qualquer pessoa que já tenha pelo menos visitado um hospital tem ideia da complexidade e do rigor com os quais os ambientes são organizados. Pelos corredores e áreas comuns impera o silêncio, conversa-se baixo, as TVs estão sempre ligadas com o volume no mínimo. Os leitos de internação têm a luz baixa para amenizar o estresse dos pacientes. Já nas áreas em que se manuseiam medicamentos e equipamentos, os ambientes são ostensivamente iluminados, e os colaboradores trabalham cobertos da cabeça aos pés com os uniformes exigidos por normas regulamentadoras. A limpeza e o respeito são princípios que permeiam toda a estrutura, e até nas áreas externas é comum sentir um certo “clima de hospital”: o silêncio, a assepsia, a tranquilidade.

Os alunos tiveram que aprender a lidar com o ambiente e com as pessoas que o frequentam. Há detalhes de ordem prática, que normatizam o uso de calçados, joias e adereços. E também modos de conduta: a forma correta de abordar e reagir a crianças, idosos, pacientes psiquiátricos. São situações muito específicas e delicadas com as quais os alunos aprenderam, na teoria e na prática, como agir.

Há algo de excepcional que acontece quando o silêncio do hospital é interrompido pelas cordas do violão. A acústica do instrumento transforma subitamente o ambiente neutro em um local familiar. Nota-se que é algo vivo, e quando a música se aproxima, uma procissão de força e som, é difícil se manter impassível ao toque do tamborim, à alegria do pandeiro. E a voz humana chega, rica, expansiva.

Com um roteiro em mãos, o grupo passa por alas, sobe e desce escadas, elevadores, e vai assim adaptando o som e o repertório. Na pediatria, o grupo começa cantando Quem Dorme É o Leão – canção que ganhou fama na interpretação de Timão e Pumba, no filme O Rei Leão. Eles alteram a letra e fazem improvisações, cantando baixinho “Oi-oi-oi” ou “Tchau-tchau-tchau” conforme entram ou saem dos quartos. Outra preferida do púbico infantil é A Casa, que a turma chega cantando com cuidado, como uma canção de ninar: “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”. Tudo muito adequado ao clima hospitalar, e as crianças nas macas assistem com atenção. Até que a música volta com tudo, em ritmo acelerado, e parece mais apropriada ainda: cria-se um clima de festa, com dança e cantoria, e os pequenos sorriem e vibram com a animação dos visitantes.

O grupo toca sem parar, ora mais alto, ora mais baixo, passando tanto por áreas de espera quanto por UTIs infantis. No ambulatório do SUS, os jovens primeiro se apresentam ao público que aguarda ser atendido, depois passam para a área restrita, onde crianças recebem tratamento. Eles entram nos quartos coletivos com a mesma animação com que começaram o trajeto. De passagem pelo corredor, cercam uma criança com paralisia cerebral em uma cadeira de rodas, sorrindo, cantando e girando, e ela reage, esticando o braço em sua direção.

Depois de duas horas de música, os alunos seguem motivados como se tivessem acabado de começar. Em momento algum eles desviam o olhar ou desanimam, e oferecem apenas sorrisos e música. Por onde passam são saudados com alegria, atraem olhares e encantam. Com uma disposição inesgotável, rodam o estacionamento cantando Asa Branca, de Luiz Gonzaga, Não Quero Dinheiro (Só Quero Amar), de Tim Maia, Assim Caminha a Humanidade, de Lulu Santos.

No pronto socorro, Bruno Lima pede a palavra e apresenta o grupo: “Boa tarde! Nós fazemos parte do programa Hospitais Musicais, realizado pela Santa Marcelina Cultura. Nós sabemos como é ficar no hospital, e viemos oferecer a nossa música para ajudar a aliviar um pouco o cansaço, a saudade de casa. Agradecemos o apoio e o carinho, e espero que a gente possa (ou não!) se encontrar aqui uma próxima vez!”

Descendo a rampa, já rumo ao ônibus, seguem tocando, e cruzam com um senhor que sobe com o auxílio da bengala. Ao passar pelo meio da turma, ele também se anima, abre um sorriso e diz: “Ê, baguncinha boa!”

Turma de veteranos do Música nos Hospitais 2017 (fotos: Helô Bortz/Santa Marcelina Cultura)

Turma de veteranos do Hospitais Musicais 2017 (fotos: Helô Bortz/Santa Marcelina Cultura)


Sobre a Rede de Saúde Santa Marcelina

A Rede de Saúde Santa Marcelina, formada pelos hospitais de Itaquera e as Organizações Sociais de Saúde (Itaim Paulista, Itaquaquecetuba e Cidade Tiradentes), bem como pela Atenção Primária à Saúde – APS e o Ambulatório Médico de Especialidades – AME, é hoje a principal referência em serviços de saúde, em baixa, média e alta complexidade na Região Leste de São Paulo.

Desde a fundação há 56 anos, a Casa de Saúde Santa Marcelina renova a cada dia sua Missão de trabalhar de forma humanizada pelo bem-estar do próximo, fazendo a diferença na vida de todos que são assistidos em estrutura comparada aos maiores centros de Saúde do País: são 16 mil colaboradores, 1480 leitos hospitalares, 93 unidades básicas de saúde e 116 serviços, gerenciados pela APS, que desenvolve o programa de Estratégia Saúde da Família, que já soma 200 mil famílias e um total de 1 milhão e 800 mil pessoas assistidas. No AME Zona Leste são realizadas 30 mil consultas por mês.

Entre as unidades hospitalares, o Hospital Santa Marcelina de Itaquera se destaca como a matriz. São mais de 700 leitos, para atendimento a particulares e convênios e o Sistema Único de Saúde – SUS, sendo 117 deles voltados à Terapia Intensiva. Oferece, dentre outros serviços, um completo e avançado Centro de Diagnóstico por imagem, Banco de Sangue próprio e se destaca na realização de transplantes de órgãos e de medula óssea, como também nos tratamentos avançados de Câncer. Constitui um dos quatro “Plantões Controladores Universitários”, instituídos pela Secretaria Estadual de Saúde e implantados para atendimento dos casos de alta complexidade.

Em 2016 foram mais de 3 milhões e 500 mil exames realizados, 425.000 atendimentos ambulatoriais, 299.000 atendimentos no Pronto-Socorro, 34.000 internações, 15.500 cirurgias, 2.700 partos, e 83 transplantes. O corpo clínico tem cerca de 1.000 médicos cadastrados, 41 especialidades e ao todo o hospital emprega 4 mil colaboradores em diversas áreas.

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